Os filmes estrangeiros que concorrem ao Oscar 2015 são superiores aos indicados à categoria principal. São cinco contra oito, e ainda assim ganham de lavada. Há muito tempo foi criada essa categoria à parte, como se tais filmes – os “estrangeiros” – fossem também “diferentes”.
O cinema nasceu mudo. O som só chegou 1927, com O Cantor de Jazz nos Estados Unidos. Em outros países demorou um pouco mais.
O Oscar, por sua vez, é fruto da necessidade de valorizar os melhores em diferentes categorias. Com o passar dos anos, e com a inevitável relevância das produções estrangeiras, seus membros resolveram criar a categoria “filme estrangeiro”.
Assim, os profissionais “de fora” foram colocados à parte, como se a linguagem do cinema pudesse ser resumida à língua falada nos filmes, não às suas imagens. Devido às imagens, o cinema assume condição universal: não é preciso ter vivido no Irã ou falar a língua do país para perceber a força de A Separação (foto acima), por exemplo.
Por isso, a Academia não pôde esnobar A Grande Ilusão, de Renoir, provavelmente o primeiro filme não falado em inglês (neste caso, o francês) a ser indicado ao Oscar de melhor filme, na década de 30 – quando a categoria de “estrangeiro” não existia.
Só na década de 50, 30 anos após sua criação, o Oscar resolveu incluir a categoria. Antes, filmes como Ladrões de Bicicleta (foto abaixo) e Rashomon ganharam prêmios especiais, pela inegável contribuição artística – mas não entraram na lista principal.
De tempos em tempos um filme vai além e consegue aparecer nas duas categorias, ser “estrangeiro” e ao mesmo tempo suficientemente bom para estar entre os melhores – revelação de um potencial que passa pela opinião do votante.
Talvez seja honesto questionar se os votantes da Academia não gostam de legendas, ou se simplesmente querem proteger – e apenas valorizar – o produto de sua própria indústria, como se o cinema fosse resumido a esse círculo. A segunda opção parece a mais correta, ainda mais quando as bilheterias não vão bem.
O Oscar – um prêmio que traz não exatamente o melhor, mas a opção de um grupo de pessoas em um determinado momento – tem muitos votantes, mais de seis mil, e não há garantias de que toda essa gente – a maior parte branca e com mais de 60 anos – viu todos os filmes relevantes de um mesmo ano. Ou mais: se viu ao menos os indicados.
Assim, sobra politicagem. E não se pode esquecer a força do marketing: em geral, os filmes que investem mais em publicidade saem na frente na hora de faturar uma indicação. Estar lá, para alguns, já é um prêmio.
Neste ano, concorrem a “filme estrangeiro” Leviatã, Ida, Timbuktu, Relatos Selvagens e Tangerines (foto acima). Alguns são belos, outros são grandes. Não fariam feio ao lado dos indicados à categoria principal – que prefere, por sua vez, A Teoria de Tudo e Selma, obras que não vão além do convencional.
Nesse cenário, é fácil notar que o Oscar continua cheio de barreiras, repleto de escolhas discutíveis, ao mesmo tempo com aversão aos “estrangeiros” e tentando valorizar o cinema, arte que está além das palavras, além das fronteiras.