Desde seu primeiro longa-metragem, A Vida de Jesus, o francês Bruno Dumont mostra filmes de difícil penetração, sempre passado em áreas rurais – à exceção de O Pecado de Hadewijch – e com personagens estranhas. A síntese desse cinema, mas inclinada à comédia, pode ser vista em seu último trabalho, O Pequeno Quinquin, ou mesmo no poderoso A Humanidade, que começa com a imagem de uma garota morta. Sua busca pela estranheza, pelas barbaridades, e mesmo pelo inexplicável, ajuda a entender porque seus filmes não agradam a todos. Na verdade, clamam pelo confronto, pelo incômodo.
5) O Pecado de Hadewijch (2009)
Tal como a Mouchette de Bresson, a protagonista desse belo trabalho termina em um lago, com a intenção de se suicidar. Ela nem sempre tem sucesso em sua busca por Deus, que beira a irracionalidade e chega a atos extremos. Dumont parece dizer que a religiosidade e a consciência social não caminham lado a lado: a religiosidade sempre depende de uma busca extrema, que ignora até mesmo as relações de afeto.
4) A Vida de Jesus (1997)
A história de amor de um jovem estranho e uma garota é a deixa para Dumont explorar a intolerância. Isso ocorre quando a namorada de Freddy (David Douche), o protagonista, deixa-se levar pelos flertes de um garoto árabe. Em paralelo, há a condição do protagonista, que sofre de epilepsia e cuja mãe, dona de um bar, não faz nada além de ver televisão. Para escapar da mesmice, os rapazes de Freddy aceleram suas motos por todos os lados.
3) A Humanidade (1999)
O protagonista é o policial menos esperado, como nenhum outro. Ele descobre, ainda no início, uma garota morta, em uma região afastada, e começa a procurar pelo criminoso. É possível ver sua vagina, vida e morte ao mesmo tempo, dando ideia das estranhezas da obra. O crime, por sua vez, é a saída para o diretor levar o público à jornada do policial, que não se recuperou de uma perda familiar. Ao mesmo tempo, ele convive com um casal de amigos.
2) O Pequeno Quinquin (2014)
Dividido em três episódios e levado à televisão, esse filme de Dumont foi eleito o melhor de 2014 pela conceituada revista Cahiers du Cinéma. O menino Quinquin (Alane Delhaye) vive em uma cidade à beira mar, afastada, e vê o agito local quando alguns crimes estranhos começam a surgir: um corpo encontrado dentro de uma vaca e outras bizarrices. O mistério mescla-se à comédia, à infância, e ainda há a presença de dois policiais desastrosos e engraçados.
1) Flandres (2006)
O espectador toma um susto, ao fim, quando as personagens revelam sentimentos. Antes, o rapaz encontra a garota para fazer sexo. À primeira vista, trata-se de mera relação carnal. Ao ver as atrocidades na guerra e sobreviver, ele volta decidido a se declarar. A moça, distante dele, vive outro confronto: está grávida e é incompreendida pelo pai. Aproxima-se do aborto. Ao expor os dois lados, na França rural e no Oriente Médio, Dumont constrói seu filme mais seguro.
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