Mais do que os anos de John Hughes, do contra-ataque de Spielberg e Lucas, e ainda mais – muito mais – do que o período em que grandes bilheterias foram ligadas aos fortões. Sim, aqueles que vieram para dar a “volta por cima”, contra a derrota na década passada, no Vietnã.

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Os anos 80 tiveram um pouco de tudo, em diferentes países. Grandes diretores despontaram, como Lynch, Jarmusch, Kusturica, Soderbergh. Do número 100 à primeira posição, grandes filmes com entretenimento e reflexão. E vários títulos ficaram de fora. O número que fecha a conta revela-se pequeno. A dor do corte é grande. E, após tanta dúvida, chega-se assim ao formato final. À lista.

100) O Meu Século 20, de Ildikó Enyedi

99) Filme Demência, de Carlos Reichenbach

98) Betty Blue, de Jean-Jacques Beineix

97) Por Volta da Meia-Noite, de Bertrand Tavernier

96) O Homem das Flores, de Paul Cox

95) Um Passeio por Paris, de Jacques Rivette

94) O Raio Verde, de Eric Rohmer

93) O Iluminado, de Stanley Kubrick

92) Melvin e Howard, de Jonathan Demme

91) A Lenda do Santo Beberrão, de Ermanno Olmi

90) A Cidade Branca, de Alain Tanner

89) A Viagem, de Michel Deville

88) Gigolô Americano, de Paul Schrader

87) Diabo no Corpo, de Marco Bellocchio

86) Cão Branco, de Samuel Fuller

85) De Volta para o Futuro, de Robert Zemeckis

84) Sexo, mentiras e videotape, de Steven Soderbergh

83) Adeus, Meninos, de Louis Malle

82) Rendez-vous, de André Téchiné

81) Platoon, de Oliver Stone

80) O Homem-Elefante, de David Lynch

79) Quando os Jovens se Tornam Adultos, de Barry Levinson

78) Os Anos de Chumbo, de Margarethe von Trotta

77) Meu Amigo Totoro, de Hayao Miyazaki

76) A Hora da Estrela, de Suzana Amaral

75) Paixão, de Jean-Luc Godard

74) Gêmeos – Mórbida Semelhança, de David Cronenberg

73) Uma Janela para o Amor, de James Ivory

72) A Despedida, de Elem Klimov

71) Kagemusha, a Sombra de um Samurai, de Akira Kurosawa

70) O Globo de Prata, de Andrzej Zulawski

69) Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios, de Emir Kusturica

68) O Homem que Virou Suco, de João Batista de Andrade

67) A Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen

66) Poeira no Vento, de Hou Hsiao-Hsien

65) O Portal do Paraíso, de Michael Cimino

64) Um Homem Meio Esquisito, de Patrice Leconte

63) Da Vida das Marionetes, de Ingmar Bergman

62) O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco

61) Cidadão Sob Custódia, de Claude Miller

60) Gandhi, de Richard Attenborough

59) Crimes e Pecados, de Woody Allen

58) O Homem de Ferro, de Andrzej Wajda

57) Corpos Ardentes, de Lawrence Kasdan

56) Eles Não Usam Black-Tie, de Leon Hirszman

55) Desaparecido, de Costa-Gavras

54) À Sombra do Vulcão, de John Huston

53) Brazil: O Filme, de Terry Gilliam

52) O Barco – Inferno no Mar, de Wolfgang Petersen

51) Olhos na Boca, de Marco Bellocchio

50) O Caminho, de Yilmaz Güney e Serif Gören

49) A Mulher do Lado, de François Truffaut

48) A Balada de Narayama, de Shohei Imamura

47) Amadeus, de Milos Forman

46) Jesus de Montreal, de Denys Arcand

45) Caçada na Noite, de John Mackenzie

44) O Sul, de Víctor Erice

43) A Insustentável Leveza do Ser, de Philip Kaufman

42) Anjos do Arrabalde, de Carlos Reichenbach

41) Entre Dois Amores, de Sydney Pollack

40) Sem Teto, Nem Lei, de Agnès Varda

39) A Revolta do Amor, de Andrzej Zulawski

38) Onde Fica a Casa de Meu Amigo?, de Abbas Kiarostami

37) Francisca, de Manoel de Oliveira

36) O Sacrifício, de Andrei Tarkovski

35) Um Sonho de Domingo, de Bertrand Tavernier

34) Paisagem na Neblina, de Theodoros Angelopoulos

33) Fanny & Alexandre, de Ingmar Bergman

32) Aos Nossos Amores, de Maurice Pialat

31) Asas do Desejo, de Wim Wenders

30) Reds, de Warren Beatty

29) História de Taipei, de Edward Yang

28) Berlin Alexanderplatz, de Rainer Werner Fassbinder

27) Videodrome – A Síndrome Do Vídeo, de David Cronenberg

26) Um Tempo para Viver, um Tempo para Morrer, de Hou Hsiao-hsien

25) Kaos, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani

24) Meu Tio da América, de Alain Resnais

23) Os Vivos e os Mortos, de John Huston

22) Era Uma Vez na América, de Sergio Leone

21) Os Eleitos, de Philip Kaufman

20) Paris, Texas, de Wim Wenders

19) Vozes Distantes, de Terence Davies

18) E.T. – O Extraterrestre, de Steven Spielberg

17) O Silêncio do Lago, de George Sluizer

16) Vida Cigana, de Emir Kusturica

15) Sob o Sol de Satã, de Maurice Pialat

14) Nostalgia, de Andrei Tarkovski

13) A Cidade das Tristezas, de Hou Hsiao-hsien

12) Agonia e Glória, de Samuel Fuller

11) Ran, de Akira Kurosawa

10) A Noite de São Lourenço, de Paolo Taviani e Vittorio Taviani

Filme nostálgico sobre a guerra, pelo olhar único dos irmãos Taviani (que pouco antes ganharam a Palma de Ouro por Pai Patrão). Inclui aquela milagrosa sequência da chuva, ao fim, que até parece acaso.

9) Blade Runner – O Caçador de Androides, de Ridley Scott

O melhor trabalho do diretor Scott foi remontado com o tempo, ganhou novas versões e ao fim deixa uma dúvida sobre o homem ao centro: seria ele, também, um dos androides que ajuda a caçar?

8) Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho

Filme dentro do filme, obra de mestre. O que deveria ser encenado, sobre a vida de um camponês morto, torna-se mais tarde um documentário e um retrato dos “anos de chumbo” no Brasil – talvez o melhor.

7) O Sorgo Vermelho, de Zhang Yimou

O primeiro longa-metragem do chinês Yimou mostra um pouco de suas paixões: tem sua atriz favorita até então, a bela Gong Li, e o vermelho que remete à guerra, ao sangue, também ao sorgo.

6) Vá e Veja, de Elem Klimov

Talvez o melhor filme de guerra moderno ao lado de Apocalypse Now, de Coppola. Klimov possibilita uma viagem ao horror, com a face despedaçada do garoto, uma das vítimas do conflito.

5) Veludo Azul, de David Lynch

Tudo surge com a orelha em decomposição encontrada pelo protagonista. O que vem a seguir atrai e assusta: o jeito frágil de Isabella Rossellini, a maneira demente de Dennis Hopper.

4) Shoah, de Claude Lanzmann

Não é novidade que se trata do maior filme já feito sobre o Holocausto, em todos os sentidos. Nove horas de narração sem um único som de tiro, uma única morte, apenas sob a perspectiva dos sobreviventes.

3) Pixote – A Lei do Mais Fraco, de Hector Babenco

A história de Pixote, dentro e fora do filme, assume proporções trágicas, para figurar ao lado de grandes filmes sobre a infância marginalizada, como Os Esquecidos, de Buñuel, e Os Incompreendidos, de Truffaut.

2) Touro Indomável, de Martin Scorsese

Disse Pauline Kael: “(…) é também sobre o cinema e sobre a violência, sobre Brando, sobre os dois Chefões – sobre a tentativa da parte de Scorsese e de De Niro de superar o que eles e todos os outros já fizeram”.

1) O Decálogo, de Krzysztof Kieslowski

Antes que venham as pedras, deve-se assumir: não é apenas um filme, mas dez médias-metragens. Poderiam estar diluídos pela lista, ocupar dela preciosos 10%. E pelo menos dois deles – Decálogo Um e Cinco – poderiam ocupar, sem fazer feio, esta primeira posição. Para dar mais espaço a outros, a opção viável foi agrupar todos em uma única posição. O mesmo fez Roger Ebert na primeira edição de Grandes Filmes.

As histórias são variadas e todas se passam em um conjunto de prédios, ainda na Polônia comunista. Não é necessariamente sobre os Dez Mandamentos. É humano, irretocável, às vezes cruel e apaixonante. O Decálogo é a obra máxima de Kieslowski, que ainda faria, na França, A Dupla Vida de Véronique e A Trilogia das Cores.

AUTOR: Rafael Amaral, crítico e jornalista

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Cineastas mais presentes na lista:

• Três filmes: Hou Hsiao-Hsien.
• Dois filmes: Akira Kurosawa, Andrei Tarkovski, Andrzej Zulawski, Bertrand Tavernier, Carlos Reichenbach, David Cronenberg, David Lynch, Elem Klimov, Emir Kusturica, Hector Babenco, Ingmar Bergman, John Huston, Marco Bellocchio, Maurice Pialat, Paolo Taviani e Vittorio Taviani, Philip Kaufman, Samuel Fuller, Wim Wenders, Woody Allen.

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