47 Ronins, de Carl Rinsch

Não é bem a figura esperada, como o homem à margem, o Keanu Reeves de 47 Ronins. Faz aqui o herói manjado, homem que, em meio a tantos japoneses e samurais, não é levado a sério e fracassa ao tentar invadir aquele bando.

Durante quase todo o filme de Carl Rinsch, ele luta para estar ao centro. Ao poucos vai conseguindo: derruba alguém aqui, mata outro ali e, como bem sabe o espectador, já conquistou o coração da princesa dessa história. À base da fórmula de Gladiador, ele é o guerreiro convertido em escravo que retorna, depois, para buscar vingança.

47 ronis

O resto é uma sucessão de situações conhecidas regadas a efeitos digitais: confrontos com monstros gigantes, traições, brigas de espadas, explosões, feitiçaria, mulheres bonitas divididas entre o bem e o mal. O maior pecado da obra, por outro lado, continua nesse humano que Reeves encarna (ou não). Ele não chega a ser o herói esperado, pois não tem emoção. E não chega a ser o anti-herói esperado, pois lhe falta ambiguidade.

Assim, ele nada faz senão se equilibrar nessa balança à qual Hollywood não para de recorrer: um emaranhado de situações previsíveis, como se o herói estivesse fadado a percorrer o caminho de sempre – à exceção de alguma diferença aqui, outra ali.

O ator de Matrix vive Kai, chamado pelos samurais de Mestiço. Aparece na vida dos guerreiros quando se perde na floresta, aparentemente perto da morte, com a cabeça marcada por cicatrizes – as marcas dos demônios da floresta. Mais tarde, o espectador descobrirá que esse herói está entre o mundo dos vivos e dos mortos – não pode ser um samurai ou um escravo, um herói por completo ou um vilão.

Ele é condenado a estar à margem: não pode amar a mulher que ama e, quando mostra grande gesto de bravura, os méritos do feito ficam com o filho do líder, um guerreiro inferior. Nada mais que o esperado.

A figura de Reeves é irônica e demonstra a dificuldade do cinema americano em parecer japonês. Quando tenta, deixa toneladas de desentendimento. É sempre um filme americano – com suas regras e efeitos – passado no Japão, com o ator corretamente apontado como mestiço, pois tenta ser o destaque e é o estranho.

Uma vez dentro do esquema proposto, a aventura chega. Um pouco de amor e filosofia escapam pelos cantos. O que esperar desse fantasma ao centro, herói à margem? Ainda pior do que o guerreiro é o seu lado amante, cujas declarações não convencem. A cada golpe, ou a cada olhar, ele expressa o fracasso dessa obra.

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